21 de fevereiro de 2011

Palavras duma Amiga



Depois de ter vivido toda a minha vida em Lisboa, há alguns anos vim viver para o Alentejo. Desta região conhecia praticamente só a casa dos meus avós, onde passava férias... Mas viver cá revelou-me a insensibilidade com que a maioria das pessoas trata os animais.
Como estamos no campo, quase toda a gente tem cães, gatos como animais de “estimação”. Só que quase todos os cães estão acorrentados, muitos abrigam-se em latas esburacadas pela ferrugem, outros servem unicamente para a caça. Os gatos pertencem exclusivamente ao quintal.
Porcos, galinhas, coelhos, cabras, ovelhas, vacas são só para comer.
Os grandes desportos são a caça, a pesca, as touradas.
Mesa farta e com bom gosto é sinónimo de carne, carne, carne. A matança do porco é ocasião de festa e convívio, a Páscoa não passa sem o sacrifício do borrego (muitos escolhidos na hora) e do cabrito. Até o sangue é bom para fazer sopas…
Sou olhada de soslaio porque digo que não gosto de touradas e tenho pena do touro; ficam admirados (alguns criticam) por cuidar de mais de uma dezena de gatos no descampado atrás do meu local de trabalho, por gastar dinheiro em alimentação, camas, mantinhas e em idas ao veterinário para lhes salvar a vida, por eu ter 8 gatinhos em casa e dizer que não tenho mais animais porque não posso (felizmente, tenho os melhores pais do mundo que me mostraram como são os animais, e que quiseram acolher e amam todos os gatinhos que hoje temos), por eu ter sempre comida e água no carro para dar a um animal de rua que passe ou encontre na estrada.
Não sou minimamente rica, não tenho subsídios, do meu orçamento mensal faz sempre parte a previsão do que posso gastar com os bichinhos. Às vezes excedo as contas, não faz mal, é menos uma peça de roupa, um jantar com os amigos ou qualquer outra coisa sem a qual posso passar.
Conto-lhe isto porque não tenho quem, por estes lados, partilhe comigo esta causa. Os meus pais ajudam-me, o meu namorado também, mas sinto-me um pouco sozinha.
Gosto muito do que faço, mas se eu pudesse reorientar o meu plano de vida, já não passaria pelo ensino, e sim pelo auxílio e protecção dos animais.
Este Alentejo onde vivo é lindo, é verde, é amplo, é cheio de ar puro, de gente boa para gente. Falta ser gente boa também para os animais. Há excepções, ainda bem, falta chegar às massas alentejanas.:)
Falta também uma associação de amigos dos animais na região de Portalegre. Quem sabe um dia descubro alguns para criá-la.
CF

4 comentários:

  1. A minha mãe tem ido passar uns tempos ao alentejo (zona de Portalegre) e quando fica por temporadas mais longas eu vou leva-la, porque ela não conduz e assim pode levar a cadela que adoptou há uns 5-6 anos atrás.
    Faz sucesso quando a leva de manhã e à noite a passear, como faz quando está na zona de Lisboa, porque as pessoas não estão habituadas a ver cães à trela e ... tão bem educados e inteligentes ... :p
    Acho que a vila inteira já conhece a Violeta e ela faz questao de parar e pedir festas a quem já percebeu que gosta dela ... :)

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  2. Talvez a Violeta aumente a sensibilidade e aprendizagem das pessoas que não foram educadas a terem compaixão nem a compreenderem os Animais :)

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  3. Trata-se, acima de tudo, de questões culturais e de "tradição". Os corações são iguais em todas as pessoas, o que muda é a forma como são educados. Não é explicação para todos os maus comportamentos, mas explica parte de atitudes e pré-conceitos que encontramos em bastantes pessoas.
    Ouvir alguém dizer ao filho pequeno que se comer a sopa toda vai à tourada (o sistema de acção / recompensa) mostra um pouco da cultura enraizada do animal-objecto.
    Comportamento gera comportamento, exemplo gera exemplo. É agindo que mostramos o valor dos animais, a sua dignidade, os seus afectos.
    É passeando a cadelinha, é fazendo festas e cuidando de animais, é havendo movimentos de solidariedade e de protecção, assim como blogues como este que mostramos que se pode ser (positivamente) diferente.
    CF

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  4. O Alentejo é muito grande; é a maior região do país, pelo que não deve generalizar todas as pessoas que lá residem com base nas pessoas que conhece. Conheço muitas pessoas do Alentejo e alentejanas que são o oposto do que relata (eu, a minha mãe, muitos amigos e amigas minhas).
    Não é só no Alentejo que não há pessoas boas para os animais: infelizmente, é em todo o mundo. Essas pessoas estão espalhadas pelo mundo inteiro. Pode ser que a ver pessoas como a senhora, essas pessoas mudem: mas, será um processo longo, moroso. Todos juntos, havemos de convencê-las a ser como nós!

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"A compaixão pelos animais está intimamente ligada a bondade de carácter,

e pode ser seguramente afirmado que quem é cruel com os animais não pode ser um bom homem."

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Arthur Schopenhauer